quarta-feira, 25 de junho de 2008

Trovoadas na Califórnia e mais disparates na TV

A Califórnia está a ser atingida por violentos incêndios que têm sido noticiados pelos noticiários dos diferentes canais da nossa TV.
Infelizmente já por 3 vezes ouvi tremendos disparates quando os jornalistas responsabilizavam as trovoadas que têm assolado a região pelo deflagrar de incêndios:
No jornal nacional da TVI o jornalista disse textualmente: "Os incêndios têm sido em grande parte provocados por relâmpagos que atingem a vegetação."
O disparate foi repetido noutro canal e num deles (não fixei qual) responsabilizavam-se os trovões.
Ora as trovoadas manifestam-se normalmente por 3 tipos de fenómenos:
1) O raio, descarga eléctrica que liga a terra (no sentido lato ou eléctrico, incluindo no conceito de terra as árvores, os edifícios e, evidentemente, os pára-raios e mesmo infelizmente pessoas) às nuvens electricamente carregadas.
2) O relâmpago, luz intensa que o raio emite e que se propaga à velocidade da luz (perdoem-me o óbvio, porque é de luz que se trata) e é visível a grande distância.
3) O trovão, som provocado pelo raio e que é o motivo do pânico que a trovoada provoca.
Ora nem o relâmpago e muito menos o trovão podem provocar incêndios, porque se trata respectivamente de apenas luz e mero som. Isto aprende-se na escola básica. Mas há jornalistas que desconhecem estas noções infantis.

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Saídas para a crise? E se não houver?

O que mais impressiona na actual crise global financeira e económica é que ninguém parece saber o que fazer. Nunca como agora me lembro de ouvir declarações ocas que as maiores sumidades fazem com ar muito sério e que deixam ver que afinal não sabem que medidas se podem tomar como paliativos para a crise e muito menos para a combater eficazmente. Também ninguém sabe como vai evoluir a situação, quanto tempo durará e que consequências terá. Nem o presidente do BCE, Trichet, nem o presidente do FED Bernanke, nem os responsáveis do FMI, da OCDE, do Banco Mundial e de outras altas instâncias internacionais parecem muito seguros do que deverão fazer e do que se poderá esperar a médio e muito menos a longo prazo. Dos responsáveis portugueses, nem falar.
As afirmações graves e solenes ficam-se por generalidades ou por verdades de La Palisse e entretanto os preços do petróleo e dos alimentos continuam a atingir novos máximos.
Eu também não sei o que fazer nem me atrevo a adiantar sugestões. Mas sempre me habituei a considerar que os altos responsáveis que chegam a cargos importantíssimos nas grandes instâncias internacionais conseguiam resolver os problemas para os quais o comum dos mortais, como eu, nem se atreve a adiantar sugestões.

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sábado, 21 de junho de 2008

O estado da nação

Regularmente o jornal Público oferece-me uma revista chamada Perspectivas. Raramente encontrei lá alguma coisa com o mínimo de interesse para mim e tenho considerado a distribuição indiscriminada da revista como um atentado ao ambiente pelo consumo de papel, para não falar em outros recursos, que implica. Responsavelmente, costumo enviar a edição rapidamente para a reciclagem, depois de a folhear por descargo de consciência, quando tenho tempo e paciência.
Porém hoje encontrei um artigo que reputo excepcional pelo diagnóstico infelizmente preciso que faz do estado da nação. O seu autor é o Ten. Cor. Brandão Ferreira, pessoa em que nunca tinha ouvido falar, mas que revela um espírito de observação excepcional.
Não resisto a transcrever o artigo, não porque julgue que o meu blog vai contribuir mais para a sua divulgação, mas para manifestar a minha concordância.

«A Criminalidade ... Faz-nos Sorrir!
De quando em vez soa o alarme na opinião publicada (pois na opinião pública o alarme já se sente, faz tempo...), porque há um surto de criminalidade, nomeadamente crimes de sangue. Estamos novamente num momento destes. Tenham esperança: a situação vai piorar!
O retrato é este:
Consumo de droga à rédea solta, apesar das apreensões serem às toneladas; roubos e burlas em crescendo e cada vez mais inventivos; raptos e lenocínio um pouco por todo o lado; exploração sob humana de emigrantes; assaltos, os mais variados a toda a hora e lugar; guerras de gangs; fuga aos impostos; lavagem de dinheiro e engenharias financeiras fraudulentas. fora de controlo adequado; violência doméstica, q.b. Etc.. Daqui passou-se, obviamente para os crimes violentos e até para o aumento dos assassinatos por encomenda.
Ora toda esta situação. que não pára de se degradar, põe em causa não só a nossa integridade física e moral, como nos coaria a liberdade da existência nas suas múltiplas facetas.
Não entendemos, porém, a admiração e o espanto que por aí lavram por as coisas se estarem a passar assim. E por isso nós sorrimos ...
Então há já mais de três décadas que tudo se tem feito para tomar as coisas ainda piores do que o que estão e os cidadãos admiram-se? Então não nos entretivemos a criar uma sociedade indisciplinada, abandalhada e mal educada? Não facturámos com o relativismo moral? Não deixámos desaparecer a censura social? Não se desautorizaram as polícias, a ponto de as termos desmoralizadas? Não minámos a cadeia hierárquica das Forças de Segurança ao passo que as inundá-mos de sindicatos e associações? Não criámos um sistema de justiça inoperante com um emaranhado de leis perfeitamente desajustadas da realidade em que se aplicam e que protegem objectivamente quem se porta mal em detrimento de quem cumpre os seus deveres e é honesto? Não se criou uma organização judiciária altamente dispendiosa e ineficaz em que procuradores e magistrados se guerreiam por sistema? Não se impôs uma filosofia social em que os indivíduos são bons e a "sociedade" é que os estraga, originando uma cultura de irresponsabilidade? Não se criou um clima de tolerância face ao consumo e até ao tráfico de droga que chega ao ponto de se distribuir seringas nas prisões e fechar-se os olhos a que os presos se droguem? Então cada vez se limita mais, o uso e porte de armas à generalidade dos cidadãos, enquanto o acesso a todo o tipo de armamento por parte dos marginais não deixa de aumentar? Por acaso não campeia a especulação imobiliária e financeira em detrimento do trabalho sério, rigoroso e produtivo? E não se tem transformado o país num imenso casino onde não param de se inventar jogatanas onde a população se ilude à espera da sua sorte? E não abundam as discotecas e antros de vício onde a juventude se perde, em vez de se entreter no desporto, nas artes, em actividades de cariz cívico, religioso, ou outro a que corresponda uma mais valia? Por caso os órgãos de comunicação social sobrepõem a pedagogia social, a elevação dos programas, o rigor da informação, etc., aos seus interesses lucrativos, à concorrência desenfreada e ao aproveitamento dos baixos instintos humanas e, no âmbito que estamos a tratar, não se têm comportado como gasolina no meio de uma fogueira? Não se tem deixado entrar catadupas de emigrantes, sem qualquer critério ou crivo? Não se têm inventado as mais amplas amnistias e artifícios vários, para aliviar as cadeias superlotadas? Não se tem deixado criar e crescer pústulas suburbanas, nas barbas de todos, cujos problemas são enfrentados apenas de forma eleiçoeira? Não se tem deixado o campo livre para que máfias internacionais se instalem? Não passámos anos e anos a discutir os pruridos de um sistema de informações em vez de montarmos uma máquina que funcione?

Ora perante tudo isto, e muito mais que não foi dito, que fazem os governantes? Fazem isto: manipulam as estatísticas; prometem mais meios, encomendam estudos, promovem reuniões e contratam assessores de imagem. De substância, nada!

E no éter regougam as opiniões dos tolos adeptos da teoria de "Bom Selvagem", dos demagogos a falarem da pobreza e dos inocentes úteis que se lastimam da falta de "sensibilização". No fim a gente atura, paga e sofre na carne e no espírito as consequências de tantos erros acumulados, com uma passividade bovina que nos envergonha!
Não, não temos razões para nos admirarmos de termos chegado a este ponto, temos é de nos admirar de não estarmos pior.»

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sábado, 14 de junho de 2008

Défice democrático da Europa

As primeiras reacções ao "não" irlandês não são de molde a sossegar-me quanto ao espírito democrático dos dirigentes políticos da UE e dos países membros. A vontade mal disfarçada de castigar os irlandeses, mal agradecidos, e de impor de qualquer modo o tratado transparece em cada declaração.
Dentre estas declarações destaco:
Durão Barroso: "O tratado não está morto." E ainda reforçou, como se fosse necessário: "O tratado está vivo". Não explicou como.
Giogio Napolitano: "A UE deve excluir os que a ameaçam."
Comissário para a Segurança, a Justiça e a Liberdade: "Il faut mettre les irlandais au pied du mur." A jornalista traduziu "...encostar ao muro." Espero que a ideia não seja levá-los perante um pelotão de fuzilamento, mas vontade disso não parece faltar.
Outras declarações são do estilo: "Os maus irlandeses, que eram tão pobres antes de aderir à CEE, voltam-se agora contra a Europa que tanto os ajudou."
Os próprios jornalistas deixam transparecer nas sua reportagens a ideia de que os irlandeses não votaram conscientemente, foram enganados por falsos argumentos. António Esteves Martins disse literalmente que "O PM irlandês foi incapaz de explicar o tratado aos irlandeses." Fica subentendido que se tivesse explicado melhor o voto seria "sim" porque, evidentemente, o tratado era bom, os irlandeses é que não o compreenderam bem.
O nosso Presidente da República diz, e muitos com ele, que cabe agora ao governo irlandês propor soluções para a crise. Não compreendo porquê. Recusaram um texto com que não concordavam. Não foram responsáveis pela sua elaboração e por isso não lhes cabe resolver o imbróglio. Quando o PR se recusa a promulgar um diploma legal proveniente da AR, não lhe cabe propor alternativas; diz simplesmente "Não concordo." e a AR ou o governo que decidam o que fazer. Parece-me que neste caso, de modo idêntico, quem propôs um texto que se revelou não ser aceitável para alguns dos seus destinatários é que deve propor alternativas.

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sexta-feira, 13 de junho de 2008

Acaba a crise dos camionistas em Portugal, começa a crise do “não” na Europa

1) A crise dos camionistas portugueses acabou com um acordo com o governo. Muitos criticam o acordo: cidadãos contribuintes acham que foi uma cedência que todos nós vamos pagar; grupos de camionistas contestam abertamente os que os representaram, quer da ANTRAM quer dos representantes ad-hoc dos piquetes, pela cedências. Por outro lado, as oposições em peso e muitos comentadores contestam a falta de previsão e a lentidão do governo em responder à crise e em repor a liberdade de circulação ameaçada assim como o perigo de que o precedente aberto, por ter cedido com medo de uma paralisação do País, venha a incentivar outras reivindicações de outros grupos profissionais. No fundo até acho que todos têm razão. Porém sou levado a pensar que o governo não tinha muitas alternativas. Eu, que nem votei Sócrates e que tenho discordado radicalmente da acção deste governo em 99% dos casos, até sou de opinião que dum modo geral teve nesta questão um comportamento correcto, evitando confrontos violentos e negociando rápida e eficazmente. O certo é que a crise acabou em poucos dias e, se houve prejuízos, estes foram na maior parte dos casos limitados e suportáveis.

2) Já na crise que hoje começa a nível europeu, motivado pelo "não" irlandês, discordo radicalmente do nosso governo, dos outros governos europeus, da Comissão Europeia e do respectivo Presidente, da grande maioria dos comentadores e da atitude pouco independente dos próprios jornalistas.
Achei um acto de contorcionismo intolerável a transformação do projecto de Constituição, ou mais correctamente do Tratado Constitucional, num tratado chamado reformador e que, para mal de nós, ficou conhecido com Tratado de Lisboa, que mudando o nome e a forma de apresentação mantinha 95% do conteúdo do outro, segundo a opinião insuspeita de Giscard d’Estaing. Mas principalmente, pelo que me foi dado saber do conteúdo do Tratado, infelizmente não pelo próprio texto que tentei estudar, mas cuja linguagem quase impenetrável e constante remissão para os tratados anteriores não facilitava a tarefa, mas sim pelos tópicos de que pude ter conhecimento pela imprensa, muitas das suas proposições pareceram-me altamente inconvenientes e duma tendência centralista perigosa. Finalmente, para não me alongar demasiado, o golpe de rins que representou a decisão de o ratificar nos parlamentos, evitando os referendos populares, com a única excepção da Irlanda por imperativo constitucional, pareceu-me nojentamente antidemocrático. Não porque rejeite a democracia representativa, mas porque este processo foi confessadamente escolhido para "evitar o perigo" de recusas populares. No caso português acresce que o referendo era uma promessa eleitoral que foi contrariada com argumentos ridículos.
Por tudo isto regozijei-me com o "não" irlandês, apenas anunciado não oficialmente, mas que espero confirmado ainda hoje. A crise não vem da vitória do "não"; vem do evidente, agora ainda mais, divórcio entre as opiniões públicas e as atitudes oficiais dos seus representantes.

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terça-feira, 10 de junho de 2008

Futebol e patriotismo

No blog um blog sobre Kleist leio:

«PORQUE NÃO APOIO A SELECÇÃO (1): Porque rejeito a ideia de que os sucessos de uma equipa de futebol devam ser elevados à categoria de desígnio nacional. Televisões e jornais, ao alardearem com deprimente desmesura uma unanimidade tão eufórica como acéfala em torno da selecção, emitem uma censura implícita a todos aqueles que se obstinam em não se juntar à festa. Como se a indiferença pela carreira do futebol luso em terras austro-helvéticas, ou a preferência por uma outra qualquer selecção, fosse crime de lesa-pátria.

Em suma: porque me repugnam situações em que a crítica, a dissidência e a oposição são desencorajadas, ainda que se trate de um campo (aparentemente?) lúdico e paralelo à vida real. Porque não gosto que falem levianamente em meu nome, e que assumam a minha adesão a uma causa apenas com base na minha nacionalidade.»

Como a minha opinião coincide exacta e completamente com o exposto e eu não diria melhor, fica apenas a transcrição.

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domingo, 8 de junho de 2008

Ainda as energias renováveis e os almoços grátis que não há

O suplemento de economia do Público da passada sexta-feira (6 de Junho) dedica 5 páginas (incluindo a 1.ª página com uma grande foto de uma onda) às energias renováveis em Portugal.
Os artigos estão bem feitos, expõem sucintamente a situação em Portugal e explicam em termos inteligíveis pelos não técnicos algumas das questões que estas formas de energia levantam. Até o artigo de Ana Fernandes sobre o hidrogénio não cai na asneira demasiado frequente de apresentar esta forma de armazenamento e utilização de energia como uma fonte primária de energia ou deixar a sua utilidade na confusão.
No entanto não consegui ver uma única referência quantificada aos custos das diferentes formas de energia renovável e aos problemas que estes custos põem à sua rentabilidade.
Numa altura em que os preços do petróleo atingiram níveis ainda há pouco não imagináveis, seria muito interessante comparar novamente os preços de energia obtida a partir de combustíveis fósseis com os de outras fontes. Penso que o fosso tem diminuído, não só pela escalada de preços do petróleo, mas também por progressos tecnológicos nas fontes alternativas, mas não faço ideia em que grau e não encontro quaisquer referências úteis.
Também quando das numerosas referências recentes ao lançamento no mercado mobiliário das acções da EDP Renováveis, não vi o tema da rentabilidade devidamente tratado. Penso que a viabilidade da nova empresa depende dos subsídios ou incentivos que são concedidos às energias renováveis para reduzir a dependência do petróleo. Mas quanto custa ao País? Por quanto tempo serão esses subsídios concedidos? Os subsídios ou os incentivos, como queiram chamar-lhe, saem de algum lado. Não há energias renováveis grátis, como acontece com os almoços.

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domingo, 1 de junho de 2008

Ainda o acordo ortográfico

Encontrei há dias um blog brasileiro e constatei mais uma vez que a grande diferença no modo de escrever não está na ortografia, mas sim na semântica e no vocabulário.
A este respeito acho que, melhor do que eu diria, vale a pena ler a mensagem do blog 2 dedos de conversa.

2 Dedos de Conversa: português neutro

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