quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

BATERISTA DE COZINHA

Não é infelizmente raro deparar com instruções de aparelhos, brinquedos ou artefactos escritas num português repleto de incorrecções e por vezes mesmo incompreensível.
Muitas vezes estão juntas as instruções originais ou noutras línguas e é então possível verificar mais em pormenor a ignorância profunda de quem as traduziu, se é que foram traduzidas por um ser humano. Acho que muitas vezes foram traduzidas por computador, mas com um mau programa de tradução.
Não é por eu ser tradutor profissional, é como português, que se sente no direito de ser bem informado e que gosta da sua língua, que me revolto cada vez que dou com uma tradução destas.
Mas por vezes, apesar da revolta, rio até às lágrimas. Reparem só neste exemplo tirado letra por letra de uma caixa de uma bateria de cozinha de "German design".


«BATERISTA DE COZINHA

Características
Material Utilizado:Aço Inoxidable 18/10 de qualidade superar.
Fundo Termocapsulado:Garantido um conduzido de acordo com a norma DIN44904
Asas e pomos de máxima duração.
Válido a fim de os fontes de hotness:Gás,Electricidade Vitrocerámica.
Beira antigoteo prático e funcional.
Economizar energia e confortar a vitamina asi como salcellar minérios e odores.
Fácil de limpar e resistente a lavavajillas»

Agora qualquer baterista de cozinha pode tocar a sua bateria confortando a vitamina. Viva o progresso!

Nota 1: Na caixa vinham também instruções em alemão, inglês, italiano e espanhol. Estranhamente havia enormes diferenças entre elas. Noutras línguas também havia incorrecções, mas nada comparável com a versão portuguesa. A palavra "hotness" deve ser mesmo portuguesa, embora eu a desconhecesse até agora, pois não vem na versão inglesa nem a encontro no dicionário.

Nota 2: As panelas até parecem ser de boa qualidade.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

Aborto (2)

Em quarto lugar, não me parece pertinente a polémica a que temos assistido nos meios de comunicação entre os apoiantes do sim e do não sobre as definições de "vida", "vida humana", "ser humano" e "pessoa humana" ou até "bebé" e as tentativas mais ou menos científicas de situar o início exacto destes estados.
A defesa da vida é uma nobre causa, mas mesmo os budistas defendem a inviolabilidade da vida animal, não se importando com as restantes formas de vida. Portanto é ocioso dizer que o embrião é uma forma de vida e portanto deve ser defendido. Mesmo dizer que é "vida humana" tem, para o efeito da sua inviolabilidade ou não e portanto da admissão do aborto, pouco significado. Quanto a mim mesmo um espermatozóide é vida humana, mesmo uma cultura de células originárias dum paciente é vida humana. Já a questão da "pessoa humana" ou "ser humano" é, ao que parece, mais pertinente. Mas onde está escrito que se o embrião (de menos de 10 semanas) é pessoa humana não pode ser morto e se não for já pode? O que interessa é saber se esse embrião, cuja constituição e desenvolvimento ao longo dessas 10 semanas é bem conhecido, é desprezável e pode ser eliminado por simples opção da mulher ou não, qualquer que seja a definição que lhe seja dada, chame-se pessoa ou não, classifique-se de feto, conjunto de células, bebé, ou qualquer outra designação.

Também me parece abusiva a alegação de que a morte do feto não equivale à morte de uma pessoa humana, que uma grávida que perde um futuro filho por aborto espontâneo não tem um desgosto idêntico ao da mãe que perde um filho e que portanto o aborto voluntário não deve ser classificado de crime. Mas afinal nunca a lei assimilou o aborto ao homicídio, sendo que as penas previstas para um caso e outro, concorde-se ou não com elas, estão longe de ser idênticas. O célebre e infeliz argumento de um defensor do "sim" de que "um ovo não tem os mesmos direitos dum frango" não tem, por isso, qualquer valor. Se um embrião de menos de 10 semanas tivesse os mesmos direitos de um homem, o aborto poderia ser sujeito a uma pena de 25 anos de prisão, como um homicídio.

O argumento de que o embrião não passa de um conjunto de células também não colhe. Que somos todos nós senão conjuntos de células? Fixemo-nos pois sobre as características do embrião ou do feto, já que a distinção entre um e outro, a idade em que deixa de ser embrião e passa a ser feto, varia conforme as especialidades entre as 8 semanas e o final do 3.º mês (13 semanas) e não parece consensual. Segundo a ciência, até às 10 semanas o embrião não possui sistema nervoso organizado e portanto não tem consciência. Mas daí não decorre imediatamente que pode ser morto por simples desejo da mãe. Um doente em coma não tem consciência, mas é crime matá-lo. Inversamente, o facto de já ter todos os órgãos formados, impressões digitais e o coração a bater impressiona e é um argumento forte, mas já ouvi defender que isso não classifica o embrião como pessoa humana.

Na minha modesta opinião, o aborto provocado (mesmo que se lhe chame interrupção voluntária da gravidez) é sempre moralmente condenável. No entanto há toda uma gradação de gravidade durante a gestação. Desde o uso da chamada pílula do dia, passando pelo aborto nos primeiros dias de vida do embrião em que apenas há uma diferenciação celular incipiente, pelas primeiras semanas em que os órgãos já estão formados, pelas fases posteriores em que o sistema nervoso do feto começa a funcionar e se presume que o novo ser já está consciente, até aos últimos meses de gravidez em que o bebé é viável fora do útero, há toda uma evolução durante a qual o grau de condenação (condenação moral. pelo menos) não pode ser o mesmo. Se repugna condenar mulheres a penas de prisão por terem voluntariamente abortado nas primeiras semanas de vida, também me parece exagerado dizer que não deve haver penas para quem provocar o aborto perto do 9.º mês.

Para finalizar e deixar clara a minha opinião, discutível como qualquer outra mas suficientemente importante para que me tenham pedido oficialmente que me pronuncie no próximo dia 11 de Fevereiro, direi que acharia aceitável a completa despenalização num prazo curto de poucas semanas, razoável que até cerca do 3.º mês, embora não despenalizado, a pena para o aborto não implicasse prisão, que a partir daí houvesse ainda uma gradação, sem a incoerência de até 10 semanas ser completamente livre e grátis e a partir de 10 semanas mais um dia ser ilegal e sujeito a 3 anos de prisão. Mas como a lei que se prepara e que será implementada se o sim ganhar é exactamente esta incoerência, não tenho dúvidas de que votarei "não".

domingo, 14 de janeiro de 2007

Aborto

Prometi voltar ao assunto do aborto. Aqui vai a minha opinião sobre a questão.

1) Em primeiro lugar acho que o uso do eufemismo "interrupção voluntária da gravidez" para designar o aborto provocado só se pode justificar por se pretender dar uma maior elegância à expressão e evitar o sentido pejorativo e desagradável relacionado com a palavra "aborto". Havendo uma palavra em bom português para a interrupção da gravidez, para quê usar três palavras? Alguém diz "interrupção da vida" em vez de "morte" ou "interrupção voluntária da vida" em vez de "suicídio"? Claro que não. Então porque complicar no caso do aborto? Apenas para tornar o conceito aparentemente mais aceitável. Portanto defendo que o que está em jogo é o aborto provocado, já que o aborto espontâneo está, obviamente, fora de questão.

Porque é que os defensores da alteração da actual lei dizem "interrupção voluntária da gravidez", mas quando falam da interrupção voluntária da gravidez feita clandestinamente já preferem dizer "aborto clandestino"? Por coerência deveriam usar o mesmo eufemismo, mas esta diferença faz com que a interrupção da gravidez feita clandestinamente pareça mais repelente por ter associada a palavra "aborto" e retirado o adjectivo "voluntária".

Estas manobras linguísticas para induzir subliminarmente uma opinião favorável parecem-me totalmente condenáveis. E é muito lamentável que tal prática tenha sido introduzida e aceite no texto oficialmente aprovado da pergunta que vai a referendo.

2) Em segundo lugar, também me parece criticável a falta de correspondência entre o que é posto à consideração dos cidadãos no texto da pergunta do referendo e o que o Governo se propõe assumidamente fazer se o sim for maioritário. A simples despenalização da interrupção voluntária da gravidez a pedido da mulher até às 10 semanas, ou seja admitir que o aborto provocado deixe de ser penalizado, não pressupõe que este acto seja completamente liberalizado sem quaisquer condicionalismos e muito menos que possa ser feito a cargo do Serviço Nacional de Saúde ou financiado por este, ou seja, pelos contribuintes. Mas é neste sentido que vão inequivocamente as recentes declarações do Ministro da Saúde.

Sobre este aspecto, gostaria de ser muito claro no que se refere à minha posição:
Se as alterações legislativas que se pudessem vir a efectuar em caso de vitória do "sim" se limitassem a descriminalizar o aborto praticado, como parece decorrer da palavra da pergunta, eu seria a favor do "sim". Mas não é isso que se prepara, de acordo com as declarações dos responsáveis, e é por essa razão que não posso em consciência votar num sentido que abrirá caminho para facilitar e incentivar o aborto sem qualquer razão ou motivo que não seja o simples desejo da grávida. Não se estabelecem limites, não se prevêem, que se saiba, aconselhamentos desencorajadores obrigatórios nem propostas de alternativas, não se pretende ouvir a opinião do pai, como se o feto fosse propriedade da mulher de que esta pudesse dispor arbitrariamente e sem custos.

3) Em terceiro lugar, na minha perspectiva, o Serviço Nacional de Saúde serve para resolver problemas de saúde dos cidadãos. Ora a gravidez não é uma doença, não é um problema de saúde. Que se promova a vigilância e o acompanhamento da grávida, que se promova a preparação para o parto, que se procure realizar os partos nas melhores condições, tudo isso cabe no âmbito dos cuidados de saúde. Que se provoque o aborto em casos de perigo para a saúde da mãe ou de malformação, ainda é admissível e admitido. Por isso, estes actos podem ser considerados pelo Serviço Nacional de Saúde pago pelos contribuintes. Mas que se provoque voluntariamente o aborto sem questionar se existe razão válida para isso ou se tal desejo decorre de uma perturbação momentânea, de dificuldades ultrapassáveis ou de um simples capricho, já não me parece que possa ser considerado um cuidado de saúde. Dir-me-ão que não há mãe que queira abortar por simples capricho, que há sempre uma razão forte. Num mundo perfeito seria assim, mas então que a lei acautele os casos justificáveis, como já faz, eventualmente procurando e acrescentando outras razões consideradas válidas.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

Termos futebolísticos a torto e a direito

Acho lamentável a tendência cada vez mais generalizada para utilizar termos da técnica ou da gíria futebolística nos discursos sobre os mais diversos temas, que nada têm a ver com futebol. com a intenção de realçar determinados aspectos. Ele é o "cartão vermelho" para cá, "cartão amarelo" para lá, ele é o "ganhar na secretaria", o "rematar à baliza", o "acertar no poste", e até se usa o "campo de futebol" ou "estádio de futebol" como medida de área. Este hábito já entrou até no Parlamento.

Mas hoje dei com um exemplo no mínimo caricato e que revela falta de cultura de quem o escreveu:
No PÚBLICO, o jornalista José J. Mateus, a propósito da ratificação pela Assembleia da República da Convenção da UNESCO sobre Diversidade Cultural, escreve:
"O documento que hoje vai ser debatido na Assembleia da República é, usando o futebol, o contra-ataque da Cultura à ameaça que vem da Organização Mundial do Comércio (OMC)."

Usando o futebol? Logo não entendi e li os parágrafos seguintes para ver como estaria a AG ou a UNESCO a usar o futebol. Mas relendo a frase fez-se luz no meu espírito, apesar de pouco perceber de futebol. Para o Sr. José Mateus, "contra-ataque" é um termo próprio, talvez exclusivo, do futebol. Nunca terá este jornalista lido uma crónica de uma batalha, de uma luta, de uma OPA? Então falar em contra-ataque é usar o futebol? Simplesmente ridículo.

domingo, 7 de janeiro de 2007

Agenda

Porque será que só nos oferecem agendas para o novo ano tarde e a más horas, quando o ano já começou há vários dias e, o que é mais, depois de termos percorrido papelarias, livrarias e outras lojas para conseguirmos comprar uma agenda que nos agrade e caiba no nosso bolso?

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