segunda-feira, 30 de janeiro de 2006

MAIS DISPARATES:

Ou melhor, mais um disparate, mas este de grande calibre!
Na semana passada, o Telejornal da RTP passou uma notícia de rodapé segundo a qual teria sido descoberto pela primeira vez um planeta "semelhante à Terra" num outro sistema estelar a "20 mil milhões de anos-luz de distância da Terra".
Os meus fracos conhecimentos de astronomia fizeram-me desconfiar; se a memória não me falhava, o diâmetro atribuído à nossa galáxia Via Láctea era de 100.000 anos-luz.. Portanto o dito planeta descoberto teria de ser fora, muito fora, muitíssimo para além da Via Láctea!! Ora tem sido possível detectar e estudar estrelas noutras galáxias, mas planetas…? Que eu saiba, todos os planetas recentemente descobertos exteriores ao sistema solar orbitam estrelas da nossa galáxia. Além disso a distância apontada era ainda contraditória com a ideia que eu tinha do diâmetro do Universo conhecido, de cerca de 15 mil milhões de anos-luz!
Desconfiei de algum engano e de facto outra estação de TV (não reparei qual) noticiou a mesma descoberta mas a "apenas" 20 mil anos-luz. Aí as coisas começaram a ficar mais claras. Num livro de divulgação ("Introdução à Astronomia e às Observações Astronómicas" de Máximo Ferreira e Guilherme de Almeida) confirmei a minha ideia do diâmetro da Via Láctea e da distância entre o sistema solar e o objecto mais distante conhecido do Universo.
A notícia desenvolvida da mesma descoberta no jornal "Público" confirmou que os milhões estavam a mais. Mas no Telejornal de sexta-feira passada o José Rodrigues dos Santos repetiu muito sério, numa notícia desenvolvida e ilustrada com imagens de planetas a rodar em volta de estrelas, a asneira dos "20 mil milhões de anos-luz de distância". Não se pode pedir que os jornalistas sejam enciclopédicos e tenham conhecimentos científicos de todos os ramos, mas há um mínimo. Há que pelo menos estar atento às notícias dos outros meios.
Para mais não é a primeira vez que milhares ou milhões a mais ou a menos são referidos, muitas vezes quando se fala de dólares ou de euros. Para anos-luz não me lembro de outro caso.
De notar ainda que a falta de comentários sobre as imagens que acompanhavam a notícia poderia levar a pensar que fossem imagens reais do novo planeta e não uma mera ilustração. Não haverá, com certeza, muitos telespectadores suficientemente ingénuos para pensarem que um planeta recentemente descoberto a 20 mil anos-luz (ou 20 mil milhões!!!) podia ser filmado e para mais com tal definição, mas mesmo assim fica bem distinguir imagens reais do objecto da notícia, imagens ilustrativas ou mesmo animações por computador.

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