quinta-feira, 28 de junho de 2007

Soares e Chavez, grandes amigos

Ouvi hoje com espanto, no noticiário da manhã da Euronews, que Hugo Chávez passou por Lisboa e esteve reunido com Mário Soares e o Embaixador do seu país. Confirma-se assim a grande amizade entre o nosso ex-PM e o presidente-candidato-a-ditador venezuelano.
Embora nunca tenha morrido de amores pelo Mário Soares, considerava-o um democrata, apenas com ideias diferentes das minhas, mas as suas recentes declarações de apoio e até de admiração por Chávez fazem-me ter sérias dúvidas pelo seu apego real ao ideal democrático.
Mas o que mais me espantou foi não ter ouvido ou visto uma única palavra sobre o assunto nos noticiários portugueses nem na imprensa. Claro que não assisti todos os telejornais, não ouvi rádio e só li um jornal, e portanto pode-me ter escapado a notícia, mas a ausência de qualquer referência no que ouvi e li leva-me a crer que os observadores e os jornalistas ou não deram importância ao assunto ou resolveram poupar Soares. Não acredito em conspirações de silêncio, mas creio em conjugação de vontades de silenciar o que, no espírito de muitos, não convém divulgar.

domingo, 24 de junho de 2007

O que haverá em Mértola que pode interessar aos finlandeses?

Segundo noticia o Público de sábado 23, "A Science-Brain & Mind technological Research Centre”, uma instituição científica finlandesa que desenvolve estudos na área da neurofisiologia e da informática, acaba de assinar com a Câmara Municipal, o Clube Náutico e o Centro de Saúde de Mértola um memorando de colaboração para o desenvolvimento de um projecto de investigação científica sobre a actividade cerebral (EEG) e demografia naquele concelho alentejano.
Os trabalhos de investigação vão tornar-se extensivos a áreas tradicionais do conhecimento como é o caso da arqueologia e a etnografia, para observar as especificidades no campo da saúde pública na região de Mértola.
A instituição finlandesa pretende procurar caracterizar a actividade electrofisiológica cerebral (EEG) da população e as patologias e distúrbios que directamente se relacionam com esta actividade, no «momento de registo»...
...o estudo pretende aumentar e diversificar o foco de investigação científica quer dentro do âmbito nacional quer internacional."

Confesso que não consigo perceber o que se vai estudar, dentro da açorda que inclui EEG, demografia, arqueologia, etnografia e patologias e distúrbios. E principalmente fico extremamente confuso e curioso sobre o que poderá haver de específico no campo da saúde pública na região de Mértola que possa justificar o interesse da instituição finlandesa e o estudo proposto. Existe algum problema de neurofisiologia que afecta especificamente a saúde dos mertolenses? É uma afecção local? Nunca ouvi falar em tal. E se existe, que poderá ter a ver com a demografia e com a arqueologia? O Science-Brain Centre finlandês já terá feito estudos afins noutras regiões, em particular no próprio país? Será que o jornalista que redigiu a notícia conseguiu perceber? Se sim, não foi capaz de transmitir a mensagem ao leitor, pelo menos a mim.

Notícias lidas a telescópio… digo, microscópio

Errar é humano e compreendo perfeitamente que os erros da mais diversa ordem (factuais, de ortografia, de gramática, de pontuação, de redacção) que se insinuam com maior frequência do que seria desejável nos jornais, mesmo nos mais sérios e cuidadosos, são inevitáveis até certo ponto. Mas não podem deixar de ser notados os mais disparatados, mesmo que talvez não mais graves, como o que me fez rir ao ler, no Público de sábado, 2007.06.23, uma frase na notícia trágica sobre o flagelo da tuberculose multirresistente. A frase é a seguinte: "Se a forma normal da tuberculose, que afecta, na maioria dos casos, os pulmões, é facilmente identificável com um simples telescópio, a tuberculose multirresistente requer investigação e laboratórios mais sofisticados..." (sublinhado meu). Há trocas de palavras assassinas. Mas confundir um microscópio com um telescópio só pode acontecer por muita falta de cuidado.

domingo, 17 de junho de 2007

Ota ou não Ota, eis a questão



Kafka actual

O País está cada vez mais kafkiano. É a Ota, é o deserto da margem sul, é o caso do processo Professor Charrua, é o «jornalismo de sarjeta», é a constituição recentíssima de António Balbino caldeira como arguido, por, ao que se supõe, suscitar no seu blog questões pertinentes sobre o percurso académico do PM. Não tenho opinado sobre estas questões apenas por falta de tempo, mas estou cada vez mais espantado com o que se passa.

Os disparates são tantos e de tal calibre que é difícil escolher por onde começar. Mas opto pelo caso da localização do novo aeroporto de Lisboa, por me parecer que é o que mais pode afectar gravemente a saúde económica dos portugueses a médio prazo.

Tenho opinião. Não como engenheiro, porque, embora licenciado e inscrito na Ordem, e portanto com direito a usar o título de engenheiro, ao contrário de certas pessoas, a minha especialidade nada tem a ver com aeroportos. Mas tenho opinião como utente, que acho que é o mais importante. Não serei certamente das pessoas mais viajadas, mas já usei bastantes vezes o aeroporto da Portela desde a minha primeira viagem até Madrid, ainda num Super Constelation, grande avião... E como utente conheço muitos aeroportos que servem grandes cidades, como Madrid, Barcelona, Milão, Roma, Londres, Dublin, Paris, Amsterdão, Bruxelas, Francoforte, Helsínquia, Istambul, Nova Iorque (JFK), San Antonio (Texas), San José (Califórnia), Hong-Kong, para não falar no Porto e em Faro. Por isso sei apreciar a vantagem de os aeroportos serem próximos das cidades que servem. A primeira vez que ouvi falar na hipótese de construir um novo aeroporto na Ota, não sei bem quando mas já há muitos anos, logo achei disparatado por causa da distância. Mais recentemente tenho dado atenção a vários argumentos de técnicos abalizados que põem em causa o justeza da escolha da Ota como o local mais apropriado para construir um novo aeroporto para servir Lisboa. E pareceram-me sempre muito fundamentados e lógicos esses argumentos. Por outro lado, a defesa da Ota tem assentado, na maioria dos casos, em argumentos que me parecem falaciosos ou pouco adequados, como a célebre acusação do Ministro Mário Lino de que Marques Mendes não deveria contestar a escolha da Ota porque tinha feito parte de um governo que teria aceite essa localização. Isto não é argumento. Estou certo de que Sócrates, o filósofo, não o nosso primeiro-ministro, não aceitaria tal argumento.

Por piedade para com o Ministro Mário Lino e porque o assunto já foi mais que debatido, não me refiro aqui à teoria do deserto, profundamente infeliz e despropositada. Mas como até fui amigo de Mário Lino e o próprio já lamentou ter feito essa comparação, dispenso-me de comentar. Não posso confirmar que Mário Lino seja engenheiro e esteja inscrito na Ordem, mas acredito que o seja, pelo menos foi meu colega no Técnico. Como confirmação, junto 2 fotografias em que aparece Mário Lino quando estudante do Técnico. Foram tiradas numa reunião de imprensa estudantil e Mário Lino é o segundo a partir da esquerda. Nelas, além de eu próprio e do actual Ministro, aparecem outros colaboradores do jornal da Associação de Estudantes, o “aeist”, nomeadamente o Jorge Dias de Deus, actualmente professor do IST e autor de livros de divulgação científica, o Albano Freire Nunes, que suponho não ter acabado o curso por ter passado à clandestinidade antes do 25 de Abril, agora membro do Comité Central do PCP, e ainda numa das fotos, de pé, o António Crisóstomo Teixeira, nomeado há dias presidente do novo Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres (IMTT), na outra o Arez da Silva, então estudante de Medicina. Só muito mais tarde vim a saber que tanto o Freire Nunes como o Dias de Deus e o Mário Lino eram, ou vieram a ser, militantes activos do PCP. Só o primeiro não deixou o partido e é agora um dirigente de topo.

Mas voltando à Ota, considerei uma boa notícia o recuo do Governo ao admitir estudar uma localização alternativa. Não sei se será a melhor solução, mas pelo que estudei sobre o assunto será certamente muito melhor segundo muitos pontos de vista, senão todos, que a Ota. Mas para mim fica a grande questão a que gostava de ver Mário Lino responder: Porquê a teimosia até agora numa solução tão criticada e a afirmação que só se considerariam outras alternativas se aparecessem estudos fundamentados nesse sentido? Não seria obrigação do Governo. perante os inconvenientes graves apontados para a Ota, promover ele próprio os estudos de alternativas, sem ter de esperar pelas iniciativas de particulares?

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Melícias e Cavaco

Lembro-me muito bem da ameaça que o Padre Melícias fez de ir a correr até à fronteira se Cavaco voltasse alguma vez ao poder, isto quando Cavaco perdeu as eleições em 1995 e deixou o governo. Depois da eleição de Cavaco para a Presidência da República fiquei à espera de ouvir a notícia da rápida fuga de Melícias para o estrangeiro, onde ficasse a salvo das malfeitorias cavaquistas. Mas esperei em vão. Pensei então que o lugar de Presidente da República não causasse tantos engulhos como o de chefe do governo e que Melícias aguentasse, embora com grande sacrifício, a presença de Cavaco na mais alta magistratura da Nação sem fugir do País. Nunca pensei é que a presença física e próxima do próprio Cavaco lhe suscitasse o à-vontade e os sorrisos que vi ontem na televisão na sessão de abertura do VIII Congresso Nacional das Misericórdias Portuguesas. Não há dúvida: Melícias estava feliz, direi mesmo felicíssimo, com a proximidade de Cavaco numa cerimónia em que figurava como Presidente das Misericórdias. A sua presença não se devia a uma obrigação protocolar cumprida com o sacrifício de quem só desejava fugir até à fronteira. Nem sequer fez menção de se afastar até à porta, muito menos até à fronteira. E ao cumprimentar o Presidente da República sorriu com evidente satisfação. Será que Cavaco já não é perigoso ou foi Melícias que se rendeu ao seu encanto?

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