domingo, 17 de junho de 2007

Ota ou não Ota, eis a questão



Kafka actual

O País está cada vez mais kafkiano. É a Ota, é o deserto da margem sul, é o caso do processo Professor Charrua, é o «jornalismo de sarjeta», é a constituição recentíssima de António Balbino caldeira como arguido, por, ao que se supõe, suscitar no seu blog questões pertinentes sobre o percurso académico do PM. Não tenho opinado sobre estas questões apenas por falta de tempo, mas estou cada vez mais espantado com o que se passa.

Os disparates são tantos e de tal calibre que é difícil escolher por onde começar. Mas opto pelo caso da localização do novo aeroporto de Lisboa, por me parecer que é o que mais pode afectar gravemente a saúde económica dos portugueses a médio prazo.

Tenho opinião. Não como engenheiro, porque, embora licenciado e inscrito na Ordem, e portanto com direito a usar o título de engenheiro, ao contrário de certas pessoas, a minha especialidade nada tem a ver com aeroportos. Mas tenho opinião como utente, que acho que é o mais importante. Não serei certamente das pessoas mais viajadas, mas já usei bastantes vezes o aeroporto da Portela desde a minha primeira viagem até Madrid, ainda num Super Constelation, grande avião... E como utente conheço muitos aeroportos que servem grandes cidades, como Madrid, Barcelona, Milão, Roma, Londres, Dublin, Paris, Amsterdão, Bruxelas, Francoforte, Helsínquia, Istambul, Nova Iorque (JFK), San Antonio (Texas), San José (Califórnia), Hong-Kong, para não falar no Porto e em Faro. Por isso sei apreciar a vantagem de os aeroportos serem próximos das cidades que servem. A primeira vez que ouvi falar na hipótese de construir um novo aeroporto na Ota, não sei bem quando mas já há muitos anos, logo achei disparatado por causa da distância. Mais recentemente tenho dado atenção a vários argumentos de técnicos abalizados que põem em causa o justeza da escolha da Ota como o local mais apropriado para construir um novo aeroporto para servir Lisboa. E pareceram-me sempre muito fundamentados e lógicos esses argumentos. Por outro lado, a defesa da Ota tem assentado, na maioria dos casos, em argumentos que me parecem falaciosos ou pouco adequados, como a célebre acusação do Ministro Mário Lino de que Marques Mendes não deveria contestar a escolha da Ota porque tinha feito parte de um governo que teria aceite essa localização. Isto não é argumento. Estou certo de que Sócrates, o filósofo, não o nosso primeiro-ministro, não aceitaria tal argumento.

Por piedade para com o Ministro Mário Lino e porque o assunto já foi mais que debatido, não me refiro aqui à teoria do deserto, profundamente infeliz e despropositada. Mas como até fui amigo de Mário Lino e o próprio já lamentou ter feito essa comparação, dispenso-me de comentar. Não posso confirmar que Mário Lino seja engenheiro e esteja inscrito na Ordem, mas acredito que o seja, pelo menos foi meu colega no Técnico. Como confirmação, junto 2 fotografias em que aparece Mário Lino quando estudante do Técnico. Foram tiradas numa reunião de imprensa estudantil e Mário Lino é o segundo a partir da esquerda. Nelas, além de eu próprio e do actual Ministro, aparecem outros colaboradores do jornal da Associação de Estudantes, o “aeist”, nomeadamente o Jorge Dias de Deus, actualmente professor do IST e autor de livros de divulgação científica, o Albano Freire Nunes, que suponho não ter acabado o curso por ter passado à clandestinidade antes do 25 de Abril, agora membro do Comité Central do PCP, e ainda numa das fotos, de pé, o António Crisóstomo Teixeira, nomeado há dias presidente do novo Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres (IMTT), na outra o Arez da Silva, então estudante de Medicina. Só muito mais tarde vim a saber que tanto o Freire Nunes como o Dias de Deus e o Mário Lino eram, ou vieram a ser, militantes activos do PCP. Só o primeiro não deixou o partido e é agora um dirigente de topo.

Mas voltando à Ota, considerei uma boa notícia o recuo do Governo ao admitir estudar uma localização alternativa. Não sei se será a melhor solução, mas pelo que estudei sobre o assunto será certamente muito melhor segundo muitos pontos de vista, senão todos, que a Ota. Mas para mim fica a grande questão a que gostava de ver Mário Lino responder: Porquê a teimosia até agora numa solução tão criticada e a afirmação que só se considerariam outras alternativas se aparecessem estudos fundamentados nesse sentido? Não seria obrigação do Governo. perante os inconvenientes graves apontados para a Ota, promover ele próprio os estudos de alternativas, sem ter de esperar pelas iniciativas de particulares?

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