quinta-feira, 18 de maio de 2006

Ainda mais disparates

A língua portuguesa continua a ser maltratada nos nossos meios de comunicação e em particular na televisão.
Mais duas pérolas:
A primeira revela mais falta de lógica do que conhecimentos da língua, mas não deixa de ser disparatada: A propósito de uma fiscalização alimentar a estabelecimentos no Algarve, em 2005.05.05, o jornalista afirmou:
"[A fiscalização] encontrou preços em falta, livros de reclamações que não existiam".
É de louvar o enorme esforço dos nossos fiscais que, para zelar pela nossa segurança alimentar conseguem até encontrar coisas que não existem!
A primeira é um dos numerosos exemplos do mau uso do verbo haver, e desta feita não por um jornalista ignorante (ignorante de língua portuguesa, que infelizmente também os há) nem por um entrevistado anónimo, mas por uma figura pública, o deputado Anacoreta Correia, em 2006.05.07 a propósito do congresso do CDS-PP: "Se houvessem divergências doutrinárias..." Pois é, as divergências doutrinárias talvez sejam como as bruxas, ninguém acredita nelas, mas lá que as hão, hão, ou se não hão, haverão.

quarta-feira, 17 de maio de 2006

Ideia para incrementar a natalidade

Por vezes a falta de tempo leva-nos a adiar acções que depois perdem oportunidade. Mas o facto de cada dia só ter 24 horas e de o tempo passar a correr, como até a minha neta de 7 anos lamenta, impõe frequentemente adiamentos involuntários.
Vem isto a propósito de uma ideia luminosa que me ocorreu perante o problema da baixa natalidade em Portugal e que poderia contribuir para minorá-lo. Pensei em expor a ideia no meu blog e como este é lido por centenas de pessoas (pelo menos centenas de vezes, talvez por uma única pessoa além de mim próprio) a ideia espalhar-se-ia rapidamente até chegar ao conhecimento de quem de direito que a acolheria e tomaria as medidas para a pôr em prática. [Espero que a minha ironia seja bem compreendida: sei que o meu modestíssimo blog tem menos influência nas pessoas que podem tomar medidas que o bater de asas de uma borboleta na Indonésia; esta, de acordo com os entendidos até pode causar um furacão na Florida, o que prova que há muitas borboletas na Indonésia a bater as asas!]
Mas voltemos ao assunto:
Antes de ter tempo de escrever a ideia no blog, eis que o Governo do nosso País propõe qualquer coisa não exactamente igual, mas muito semelhante.
A minha ideia era a de conceder reformas mais altas a quem tinha dado filhos à pátria, e tanto mais aumentadas quanto maior o número de filhos. É absolutamente lógico: Se a dificuldade de sustentação da Segurança Social é causada primariamente pelo desequilíbrio geracional, em grande parte motivado pela baixa natalidade, aqueles que na sua vida activa não só contribuíram com os seus descontos, mas além disso tiveram mais filhos que mais tarde, quando os pais estiverem reformados, vão ajudar, com os seus descontos, a pagar as pensões destes e dos outros todos, então estão já a dar o seu contributo aumentado para a resolução do problema. Além disso, esta medida seria um incentivo para que nasçam mais crianças. Em vez de pôr dinheiro em esquemas privados de segurança, como os PPRs, haveria a vontade de prevenir os rendimentos na velhice tendo mais filhos.
Como não registei direitos da ideia, nem sequer a divulguei a seu tempo, a minha preguiça fez-me perder o privilégio da novidade e o Governo veio propor que os descontos para a Segurança Social possam vir a depender do número de filhos, aliviando os pais de famílias numerosas.
Ainda assim acho a minha ideia mais lógica, embora o incentivo, projectado para o futuro, possa não ser tão apelativo. Portanto: Senhores legisladores, por favor, passem a minha ideia a lei.

quinta-feira, 4 de maio de 2006

Bebidas alcoólicas 2

No seguimento das minhas considerações sobre consumo de bebidas alcoólicas publicadas ontem no meu blog, lembrei-me que há anos vi, exactamente no Diário de Notícias, duas notícias sobre o mesmo assunto contraditórias entre si, o que me levou a escrever uma carta ao DN, a qual nunca foi publicada.

A carta, de Novembro de 1999, era do seguinte teor:

"Meu caro DN

Aprecio há muitos anos o DN principalmente pelo interesse e precisão das notícias. É claro que o DN confia nas suas fontes, e compreendo que não se pode considerar uma falha do jornal a disparidade de dados colhidos de origens diferentes, sendo correcta a atitude do DN quando cita claramente a origem das notícias veiculadas.

No entanto não pude deixar de ficar chocado e intrigado com duas notícias publicadas com menos de uma semana de intervalo e que, na parte em que se referem à mesma realidade, me parecem completamente contraditórias.

No dia 14, com base em dados do Eurostat (últimos dados, de acordo com a notícia), no gráfico "Litros de álcool puro bebidos por ano por uma pessoa média com mais de 15 anos [* dados na maior parte de 1996 ou 1997 mas alguns antes]" Portugal (com cerca de 8 l/ano) aparece em 14.º lugar nos 18 países mencionados e em 13.º lugar no conjunto dos 15 países da UE, apenas acima da Finlândia e do Reino Unido. Os valores para os diferentes países situam-se entre cerca de 4,5 l/ano para o Reino Unido, a Islândia e a Noruega e os mais de 14 l/ano para a Itália.

Porém no dia 20 uma outra notícia, com base em "dados recentes", apresenta um panorama completamente diferente.

De acordo com o subtítulo, "Portugal lidera um quadro negro" e realmente, entre outros factos relacionados com o consumo de álcool, o quadro "Consumo de álcool per capita na UE" (fonte: World Drink Trends 1997) cita Portugal em 2.º lugar (nos dados referentes a 1996), com 11,2, logo após o Luxemburgo. Todos os outros países da UE, cujo cidadão médio na notícia do dia 14 bebia mais que o de Portugal, passam nesta notícia a beber menos. Os números mais recentes, de 1996, vão de 4,9 para a Suécia até 11,8 para o Luxemburgo. Por exemplo a Itália, que na outra notícia batia o recorde com 14, aparece aqui com uns modestos 8,2 em 11.º lugar! Ambas as colecções de dados se referem a álcool e não a bebidas alcoólicas, o que poderia explicar em parte algumas diferenças.

Se bem que os anos não coincidam completamente e se compreenda que dados estatísticos podem diferir conforme a amostragem, não se percebe como podem os dados ser tão díspares, conduzindo a conclusões opostas no caso do nosso País e de outros.

Repito que não considero o DN responsável por esta discrepância. Já no que se refere a algumas imprecisões no modo de apresentar os dados do dia 20, talvez a situação não seja a mesma. O quadro citado "Consumo de álcool per capita na UE" não especifica as unidades. Suponho que serão litros por ano, mas sem qualquer indicação tanto poderia ser assim como centímetros cúbicos por hora, galões por semana ou outra qualquer. A clara especificação das unidades é uma norma de boa prática em qualquer apresentação. Além disso os números referentes à Finlândia apontam no mapa para a Suécia, que não pertence sequer aos 15. Noutro quadro, "Hábitos por estado civil", a falta de unidades é mais grave, pois embora seja de supor que as primeiras linhas se referem a percentagens (suponho eu, visto que somam em cada coluna cerca de 100), não se percebe o que representam os totais; 1741 solteiros, 4208 casados e 596 outros são o quê? Uma amostra? Que eu conseguisse ver, o texto não esclarece. As notícias dadas assim deixam dúvidas que poderiam ser evitadas com um pouco mais de cuidado."

Portanto a confusão dos números aumenta: Pela notícia actual do Público citada conclui-se que o consumo de álcool (puro) por pessoa e por ano em 2005 anda pelos 8,7 litros, o que não anda longe dos números adiantados pelo Eurostat para 1996 ou 1997, mas que se afasta significativamente dos 11,2 l apontados pelo World Drink Trends para 1996. Se houve nestes anos uma diminuição tão notável de consumos (22% em 9 anos, segundo os números do mesmo organismo), aí está um facto que merecia ser salientado. E se, segundo o Eurostat, Portugal em 1996 ou 1997 com 8 l/ano ficava em 14.º lugar entre 18 países, como passou em 2005, com um consumo praticamente idêntico, para a 7.ª posição a nível mundial? Será que houve 7 países em que o consumo desceu tanto que nós, sem aumentar o nosso, subimos tanto na escala? Note-se ainda que o Eurostat definia acertadamente que o consumo médio por pessoa adiantado era referido a maiores de 15 anos. Nos outros casos, já que nada é definido, pode supor-se que se referem à população em geral.


quarta-feira, 3 de maio de 2006

Consumo de bebidas alcoólicas

Qual será o verdadeiro consumo de álcool em Portugal e em que lugar nos encontramos em consumo em comparação com outros países? Não sei a resposta. Quando mais notícias leio, mais confuso fico. Aliás isto acontece-me com muitos outros assuntos. Quando oiço ou leio uma notícia, é muito frequente ficar com mais dúvidas que certezas, não por duvidar da honestidade do jornalista, mas por encontrar falhas de informação ou mesmo incoerências.

No presente caso refiro-me a uma pequena notícia lida no Público de 10 de Abril: "O Ranking – Portugal é o sétimo consumidor mundial de álcool".
Passo a transcrever:

"Portugal ocupa a sétima posição na lista dos maiores consumidores mundiais de bebidas alcoólicas, e a cerveja é a principal responsável, segundo dados da World Drink Trends, revelados ontem pelo Diário de Notícias. Em 2005, os portugueses beberam diariamente 2,8 milhões de litros de álcool e a cerveja foi a mais consumida, à frente do vinho e das bebidas espirituosas. No ano passado, segundo a Direcção-Geral das Alfândegas e dos Impostos Especiais sobre o Consumo, foram vendidos 517 milhões de litros de cerveja, menos 74 milhões do que em 2004. No mesmo período, os portugueses consumiram 481 milhões de litros de vinho e 6,7 milhões de bebidas espirituosas."

Fiquei logo com a dúvida se os 2,8 milhões de litros se referiam mesmo a álcool, ou seja etanol puro, ou seriam antes de bebidas alcoólicas. Para tentar averiguar fiz umas contas, com base nos números da Direcção-Geral das Alfândegas e concluí que o consumo total condiz desde que o número da World Drink Trends (WDT) seja de bebidas alcoólicas e não de álcool. (Para este cálculo aproximado, tomei como teor alcoólico da cerveja 4%, do vinho 13% e das bebidas espirituosas 50%; tendo em atenção a grande variedade das chamadas bebidas espirituosas, desde os vermutes ao vodka, este último número é o que mais se pode afastar da realidade; mas a sua influência no cálculo é diminuta). Os dados da DGA confirmam que o consumo global de bebidas alcoólicas, todas somadas, é de cerca de 2,8 milhões de litros por dia, mas o de álcool contido nessas bebidas deve ser apenas cerca de 0,24 milhões de litros por dia. Estes números parecem à primeira vista enormes, mas vejamos o que resulta como consumo individual.
Conclui-se também que o consumo médio per capita, para 10 milhões de habitantes, será em média de 0,14 litros de cerveja por dia e pessoa, o de vinho de 0,13 l/d.p e o de bebidas espirituosas de apenas 0,002 l/d.p. Claro que as crianças não bebem e há talvez um número significativo de abstémios, mas mesmo assim não me parece um país de alcoólicos. O que não quer dizer que o alcoolismo não possa ser um problema, apenas não será muito generalizado.
A notícia é omissa quanto a se o posicionamento dos países na lista dos maiores consumidores é feito com base no volume global, sem ter em conta o grau alcoólico, o que seria disparatado. Não conheço o organismo WDT, mas presumo que seja uma entidade responsável e que se ordena os países por consumos terá em conta o tipo de bebida.
Pena é que a notícia não seja mais desenvolvida, referindo a comparação com os outros países. (Talvez a notícia original no Diário de Notícias tivesse mais dados, mas infelizmente não a cheguei a ver.)
Mas terá interesse comparar com dados anteriores, o que farei em breve, assim que tiver tempo.

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