domingo, 30 de setembro de 2007

A entrevista interrompida

Sou daqueles que pensam que a atitude de Pedro Santana Lopes ao recusar prosseguir a entrevista na SIC-Notícias depois de uma interrupção despropositada foi justificada e revelou dignidade. Não está em causa se PSL foi bom ou mau Primeiro-Ministro ou bom ou mau político. Está sim a noção de que um convidado não deve ser humilhado, que a política é mais importante do que o futebol, por muito má que a política vai sendo hoje em dia.

Mas principalmente acho deplorável a decisão da direcção da estação de TV de ordenar ou permitir a interrupção e de a tentar justificar.

Na minha opinião já há futebol a mais na TV. Compreendo que haja quem goste de ver muitas emissões sobre futebol, mas ao menos que este tenha o seu lugar e não seja imposto aos telespectadores.

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Eu, Cláudio


Revi a magnífica série de episódios sobre a Roma imperial "Eu, Cláudio", baseada no romance histórico de Robert Graves. Já a tinha visto na televisão espanhola em 1978/79 e anos depois na nossa RTP. Passou agora na RTP Memória e foi um prazer seguir novamente as peripécias da história do Império Romano desde Tibério até Cláudio, que, embora romanceadas, seguem relativamente bem, tanto quanto me é possível avaliar, a verdade histórica. Desta vez tentei seguir o enredo comparando-o com as biografias dos intervenientes, para o que me vali principalmente da Wikipédia.

Mas para além da verdade histórica da Roma imperial, impressionaram-me alguns aspectos da intriga política da época que, tirando os meandros mais extremos da tirania de alguns imperadores, os assassinatos políticos e o grau de loucura e degradação a que se chegou, encontra paralelo na actualidade. O cinismo, a hipocrisia, o servilismo, a cobardia, o cálculo frio, a mentira, a supremacia dos interesses pessoais, o desprezo pelo povo e a aparência de normalidade democrática representada pelos senadores, o discurso enganador e as intrigas de bastidores, tudo isto está lá, tudo isto é bem actual.

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segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Sobe e desce no Público: Sarkozy

A secção "Sobe e desce" publicada na última página do Público emite diariamente juízos de valor sobre figuras públicas a propósito de notícias publicadas no interior do jornal, classificando com setas a subir em fundo verde as figuras que, de acordo com o responsável desta secção, suponho eu, tiveram uma actuação meritória ou bem conseguida, com uma seta a descer sobre fundo cinzento aquelas cuja actuação é julgada menos correcta ou condenável. Até aqui tudo bem; o jornal tem o direito de, para além de informar, que é a sua principal função, opinar sobre a justeza das acções dos sujeitos das notícias, desde que haja uma separação nítida entre o que é informação, que deve ser isenta, mesmo que a isenção absoluta seja inatingível, e os juízos de valor, sempre dependentes da subjectividade de quem os faz.

Mas já não me parece correcto que as opiniões, porque é de opiniões que se trata, da secção "Sobe e desce" não sejam assinadas. Nalguns dias trazem iniciais, o que é insuficiente, mas muitas vezes nem isso: são opiniões anónimas. Será que são da autoria dos jornalistas que redigiram as notícias para as quais remetem? É duvidoso, porque quando trazem iniciais nem sempre estas coincidem com as dos respectivos jornalistas. Mas, mesmo que o sejam, a identificação deveria vir repetida, para não se confundir no leitor a missão de informar (com isenção) com a possibilidade de opinar. Acresce que muitas vezes a classificação é muito discutível e mesmo nalguns casos parece totalmente inadequada.
Vejamos o caso concreto do jornal de hoje (2007-09-17), que me chocou particularmente:

Nicolas Sarkozy mereceu, segundo o comentador anónimo, uma seta a descer, sinónimo de acção negativa, a propósito de "sujeitar a testes de ADN filhos de imigrantes". O comentário porém refere "O Governo francês", e só fala em Sarkozy para dizer que esta "exigência... confirma os piores receios sobre a tolerância de Sarkozy." O comentário, ilustrado com uma fotografia de Sarkozy e não do chefe do Governo ou do ministro responsável pela alegada medida, remete para a página 16. Ora pela notícia inserida nesta página, devidamente assinada por Clara Barata, verifica-se que a medida foi proposta por um deputado do partido do Presidente Sarkozy e não pelo Governo, muito menos pelo próprio Sarkozy, Presidente da República, que a proposta ainda vai ser discutida no Parlamento, que a medida não será obrigatória mas apenas sugerida e que "Para as coisas passarem a funcionar assim, seria preciso emendar a Constituição francesa."

Parece portanto que o comentário não corresponde em bom rigor à notícia. Claro que sendo Sarkozy o chefe do partido cujo deputado apresentou a proposta é de supor que deverá, em princípio, concordar com ela, mas a notícia não o refere expressamente, apenas adianta que o ministro da Imigração "terá de a defender". A atribuição da classificação negativa ao Presidente da República e a fotografia deste parecem pois inadequadas. Mas o mais importante é, quanto a mim, que a classificação desta medida como negativa, assim como as diferentes classificações diariamente apresentadas, depende necessariamente da subjectividade do comentador anónimo, o que não me parece uma boa ideia num jornal de referência como o Público ou mesmo em qualquer jornal. Esta é a minha opinião, subjectiva, com certeza.

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segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Liberdade Religiosa

Mário Soares foi empossado como presidente da Comissão para a Liberdade Religiosa. Pergunto-me para que serve esta comissão e o que compete fazer ao seu presidente. Não basta uma lei que determine a liberdade religiosa (mal ou bem feita, não sei, mas já existe) e os tribunais para a fazer cumprir? Porque não então criar uma comissão para a liberdade de expressão? Ou uma comissão para a liberdade de circulação? Ou uma comissão para a liberdade de exercício da profissão? Ou uma comissão para a liberdade tout-court? Ou... ou...
Bem sei que a Comissão já existia. Francamente nunca tinha dado por ela. Também não admira, dado que não professo qualquer religião.
E já agora, a propósito de não professar qualquer religião, parece-me extremamente bizarra a ideia defendida pelo empossado de que ser ateu dará mais garantias de isenção.
Não sei se os cargos de presidente e de vogais da dita comissão são remunerados, mas de qualquer maneira, mesmo que exerçam as suas actividades (quais?) graciosamente, a simples existência da comissão implicará forçosamente gastos para o Estado, isto é para os contribuintes, ou seja eu e todos nós. Para quê? Acabe-se com a comissão e deixe-se as religiões tratarem de si.

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