domingo, 11 de março de 2007

Quantos eram, afinal?

Já estamos habituados que para muitos jornalistas da televisão mais ou menos zeros pouco interessam. Parece que, se os zeros à esquerda nada valem, alguns zeros à direita também são facultativos, podem ser acrescentados ou retirados sem qualquer cerimónia.

Se por vezes estas mudanças de ordem de grandeza, como a que confundia milhares de anos-luz com milhares de milhões de anos-luz, são efeito de ignorância ou de falta de atenção, ou das duas coisas, é evidente que em temas politicamente sensíveis a manipulação de números não deve ser inofensiva. Então quando se trata de avaliações de número de grevistas ou de manifestantes, é de desconfiar que alguns jornalistas têm tendência a citar os números que mais agradam ao respectivo posicionamento político. Não posso afirmar que o fazem conscientemente e muitas vezes nem é certo que os números estejam incorrectos, apenas são números parciais ou seleccionam uma das várias estimativas, aparentemente porque é a que mais lhes agrada.

Em vários canais ontem ouvi as mais díspares apreciações do número de espanhóis que se manifestaram contra a política antiterrorista do primeiro-ministro espanhol Zapatero. Umas notícias falavam em dezenas de milhares, um correspondente local adiantava que a polícia avaliava os manifestantes em 900 000 só em Madrid, em consonância com este número outras notícias já adiantavam centenas de milhares, hoje os jornais dizem que foram dois milhões em toda a Espanha. Claro que, apesar das imagens deixarem ver que eram muitos, não podemos ter a certeza de quem teve razão, mas a discrepância não deixa de ser altamente lamentável, para não dizer reprovável.

segunda-feira, 5 de março de 2007

Voltando à Valquíria

Tenho de reconhecer com humildade que certamente sou eu que não percebo nada de encenação. A encenação de Vick no São Carlos da Valquíria que tão vivamente critiquei, fazendo honestamente a ressalva de que não tinha assistido à ópera mas apenas visto umas poucas cenas na televisão, tem sido alvo de críticas e referências elogiosas. O que me pareceu disparatado e de mau gosto, afinal parece que para os entendidos é grande arte e é freudiano e psicanalítico. Confesso que não é só com as encenações modernas de teatro e de ópera (algumas, entenda-se) que se dá esta minha aversão de ver figuras de épocas antigas ou mitológicas vestidas com trajes modernos. Também há muitas manifestações artísticas contemporâneas que não consigo compreender nem apreciar (sim, porque poderia apreciar sem compreender, o que na realidade acontece com algumas). Como no caso da Valquíria, estou pronto a reconhecer que certamente a limitação é minha, própria de um velho cota. Mas apesar de lembrar a mim mesmo constantemente que também os impressionistas foram duramente atacados pela crítica do seu tempo e que a Sagração da Primavera de Stravinsky foi pateada, que os gostos evoluem e que a arte moderna é muitas vezes incompreendida na sua época, não consigo gostar de encenações como a da Valquíria de Vick. E como gostos não se discutem, deixem-me com o meu gosto, que não está certo nem errado, é o meu.

sábado, 3 de março de 2007

Limpeza de Cartazes em Lisboa

Há várias coisas que me revoltam. Há outras que não compreendo. Estes dois grupos têm uma área de intersecção que são as coisas que simultaneamente me revoltam e não compreendo. Uma delas é a proliferação de cartazes colados em edifícios e monumentos de espectáculos, promoções culturais, actividades políticas e tantas outras coisas que desfeiam as paredes das nossas cidades.

Revolta-me porque não têm respeito por edifícios particulares, por vezes com valor arquitectónico, e, mesmo que quando colados tenham algum valor informativo, com o tempo e expostos à intempérie tornam-se em farrapos horríveis. Ainda os que são colados em tapumes, ainda vá lá, embora os donos dos tapumes, sim, porque até os tapumes têm donos, devessem poder impor a sua vontade de os conservar limpos. Mas em paredes, edifícios, pilares de pontes e até em monumentos, é demais e tornou-se uma verdadeira praga.

Não compreendo, porque as Câmaras, e no caso de Lisboa, que me interessa mais em particular por cá viver, a CML, deveriam ter poderes e exercê-los para evitar está prática nefasta e porque quase sempre os cartazes identificam os promotores dos espectáculos ou actividades anunciadas e deveria ser possível responsabilizá-los pelos danos estéticos e outros causados pelos cartazes e pela sua colagem. Muitas vezes os acontecimentos culturais reclamados têm até promoção de organismos públicos ou da própria Câmara.

Foi por isso com alegria e alguma esperança que vi as notícias sobre uma campanha para limpeza das paredes assim vandalizadas e sobre a futura responsabilização dos coladores de cartazes. Para mais quando esta campanha se estende aos graffiti que na maioria dos casos sujam paredes de propriedades particulares sem respeito e impunemente. Compreendo que se possa considerar os graffiti como uma forma de arte popular. Aceito que se tolerem graffiti em muros de propriedades públicas ou em que os proprietários não se oponham. Mas se o próprio Leonardo da Vinci tivesse pintado as suas obras primas em paredes de casas sem licença dos donos teria sido uma actividade condenável, se bem que certamente sem a falta de estética que predomina nos nossos graffiti. De facto a maior parte dos graffiti q ue se vêem nas paredes dos prédios da Lisboa pouco ou nada têm de artístico e consta que muitos servem para marcar territórios de grupos de jovens que assim querem expressar o seu poder territorial. Por isso acho altamente positiva esta acção da CML e espero que tenha a continuação que se impõe.

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