segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Sobe e desce no Público: Sarkozy

A secção "Sobe e desce" publicada na última página do Público emite diariamente juízos de valor sobre figuras públicas a propósito de notícias publicadas no interior do jornal, classificando com setas a subir em fundo verde as figuras que, de acordo com o responsável desta secção, suponho eu, tiveram uma actuação meritória ou bem conseguida, com uma seta a descer sobre fundo cinzento aquelas cuja actuação é julgada menos correcta ou condenável. Até aqui tudo bem; o jornal tem o direito de, para além de informar, que é a sua principal função, opinar sobre a justeza das acções dos sujeitos das notícias, desde que haja uma separação nítida entre o que é informação, que deve ser isenta, mesmo que a isenção absoluta seja inatingível, e os juízos de valor, sempre dependentes da subjectividade de quem os faz.

Mas já não me parece correcto que as opiniões, porque é de opiniões que se trata, da secção "Sobe e desce" não sejam assinadas. Nalguns dias trazem iniciais, o que é insuficiente, mas muitas vezes nem isso: são opiniões anónimas. Será que são da autoria dos jornalistas que redigiram as notícias para as quais remetem? É duvidoso, porque quando trazem iniciais nem sempre estas coincidem com as dos respectivos jornalistas. Mas, mesmo que o sejam, a identificação deveria vir repetida, para não se confundir no leitor a missão de informar (com isenção) com a possibilidade de opinar. Acresce que muitas vezes a classificação é muito discutível e mesmo nalguns casos parece totalmente inadequada.
Vejamos o caso concreto do jornal de hoje (2007-09-17), que me chocou particularmente:

Nicolas Sarkozy mereceu, segundo o comentador anónimo, uma seta a descer, sinónimo de acção negativa, a propósito de "sujeitar a testes de ADN filhos de imigrantes". O comentário porém refere "O Governo francês", e só fala em Sarkozy para dizer que esta "exigência... confirma os piores receios sobre a tolerância de Sarkozy." O comentário, ilustrado com uma fotografia de Sarkozy e não do chefe do Governo ou do ministro responsável pela alegada medida, remete para a página 16. Ora pela notícia inserida nesta página, devidamente assinada por Clara Barata, verifica-se que a medida foi proposta por um deputado do partido do Presidente Sarkozy e não pelo Governo, muito menos pelo próprio Sarkozy, Presidente da República, que a proposta ainda vai ser discutida no Parlamento, que a medida não será obrigatória mas apenas sugerida e que "Para as coisas passarem a funcionar assim, seria preciso emendar a Constituição francesa."

Parece portanto que o comentário não corresponde em bom rigor à notícia. Claro que sendo Sarkozy o chefe do partido cujo deputado apresentou a proposta é de supor que deverá, em princípio, concordar com ela, mas a notícia não o refere expressamente, apenas adianta que o ministro da Imigração "terá de a defender". A atribuição da classificação negativa ao Presidente da República e a fotografia deste parecem pois inadequadas. Mas o mais importante é, quanto a mim, que a classificação desta medida como negativa, assim como as diferentes classificações diariamente apresentadas, depende necessariamente da subjectividade do comentador anónimo, o que não me parece uma boa ideia num jornal de referência como o Público ou mesmo em qualquer jornal. Esta é a minha opinião, subjectiva, com certeza.

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