sábado, 14 de junho de 2008

Défice democrático da Europa

As primeiras reacções ao "não" irlandês não são de molde a sossegar-me quanto ao espírito democrático dos dirigentes políticos da UE e dos países membros. A vontade mal disfarçada de castigar os irlandeses, mal agradecidos, e de impor de qualquer modo o tratado transparece em cada declaração.
Dentre estas declarações destaco:
Durão Barroso: "O tratado não está morto." E ainda reforçou, como se fosse necessário: "O tratado está vivo". Não explicou como.
Giogio Napolitano: "A UE deve excluir os que a ameaçam."
Comissário para a Segurança, a Justiça e a Liberdade: "Il faut mettre les irlandais au pied du mur." A jornalista traduziu "...encostar ao muro." Espero que a ideia não seja levá-los perante um pelotão de fuzilamento, mas vontade disso não parece faltar.
Outras declarações são do estilo: "Os maus irlandeses, que eram tão pobres antes de aderir à CEE, voltam-se agora contra a Europa que tanto os ajudou."
Os próprios jornalistas deixam transparecer nas sua reportagens a ideia de que os irlandeses não votaram conscientemente, foram enganados por falsos argumentos. António Esteves Martins disse literalmente que "O PM irlandês foi incapaz de explicar o tratado aos irlandeses." Fica subentendido que se tivesse explicado melhor o voto seria "sim" porque, evidentemente, o tratado era bom, os irlandeses é que não o compreenderam bem.
O nosso Presidente da República diz, e muitos com ele, que cabe agora ao governo irlandês propor soluções para a crise. Não compreendo porquê. Recusaram um texto com que não concordavam. Não foram responsáveis pela sua elaboração e por isso não lhes cabe resolver o imbróglio. Quando o PR se recusa a promulgar um diploma legal proveniente da AR, não lhe cabe propor alternativas; diz simplesmente "Não concordo." e a AR ou o governo que decidam o que fazer. Parece-me que neste caso, de modo idêntico, quem propôs um texto que se revelou não ser aceitável para alguns dos seus destinatários é que deve propor alternativas.

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