sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Mistificação

Há poucos espectáculos mais tristes do que as discussões no parlamento. A discussão de ontem sobre o Orçamento de Estado para 2009 foi uma dessas ocasiões. As perguntas muitas vezes não se destinavam a obter esclarecimentos, mas sim a apontar divergências; isto até é normal. Mas as respostas do governo também não esclarecem nada; as mais das vezes limitam-se a tentar denegrir o interlocutor ou a afirmar, sem mais explicações, a bondade das opções por meio de afirmações populistas, do tipo de "é para apoiar as famílias e as PMEs", ou a afirmar a "defesa dos mais necessitados", sem qualquer argumento justificativo.

Estive na expectativa de conhecer que medidas tinha o governo para contrariar a crise económica, sobre a qual os especialistas dizem que o pior está para vir. Mas além
1) da baixa do IRC para o escalão mais baixo, cujo efeito é ínfimo e só será sentido em 2010, para além de nada fazer pelas PMEs que não têm lucros e portanto não pagam IRC, as mais aflitas, naturalmente,
2) do 13.º mês de abono de família para as famílias mais carenciadas,
3) duma linha de crédito para PMEs, que já lutam com um endividamento sufocante, e
4) da promessa, pela 3.ª vez, de pagamento das dívidas do Estado, parece não haver qualquer medida de apoio às famílias que não têm filhos (portanto não têm abono), às empresas que não tenham lucros ou que não sejam PMEs, nem aos pensionistas, que sofrem com os aumentos de pensões abaixo da inflação, com a diminuição da dedução específica no IRS, dedução cujo valor superior ao dos empregados por conta de outrem se destinava a compensar a ausência de progressão na carreira - claro que os pensionistas nem sequer têm carreira - e o nulo poder reivindicativo.

No final da discussão fiquei com a impressão que Sócrates é um bom orador, astuto na argumentação, mas falho no conteúdo, com respostas sempre laterais, para não dizer mistificadoras, sem contrapor argumentos directos. Mas o ministro Teixeira dos Santos, com uma presença aparentemente mais técnica e menos parecida com um vendedor de computadores Magalhães, foi igualmente arrogante e mistificador, chegando ao ponto de perguntar ao chefa da bancada do principal partido da oposição "que interesses defendia". Lamentável!

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