terça-feira, 29 de julho de 2008

Não são disparates, mas imprecisões e confusões

Desta vez os alvos da minha atenção são pormenores imprecisos e confusos tanto na imprensa escrita como na televisão:

Escreve a jornalista Ana Gerschenfeld no Público, a propósito de «Erros médicos acontecem em casa»:
«Uma equipa de sociólogos norte-americanos» investigou a origem de «erros mortais de medicação. ...Analisaram os registos de óbitos dos EUA entre 1983 e 2004 ... focando-se nas 200 mil mortes cuja causa pertencia à categoria de "erros de medicação"». E conclui (o estudo ou a jornalista?) que «a fórmula mais mortal é clara: a combinação de medicamentos tomados em casa com drogas recreativas e/ou álcool levou a um aumento de 3196 por cento. ... em meio hospitalar foi de apenas cinco por cento.»
Ora estas variações percentuais nada dizem sobre qual "a fórmula mais mortal". Os óbitos domésticos aumentaram 3196% a partir de quanto para quanto? Se em 1983 eram 100 no total de 200 000 estudados, em 2004 seriam apenas 3296 casos, ao passo que um aumento de 5% pode ter um impacte muito maior se a base de cálculo, isto é, o valor em 1983, fosse 199 900. Em 2004 teria atingido 209 895 casos e a fórmula mais mortal seria sempre obtida em meio hospitalar.
Pode ser que a jornalista (ou o estudo) tenha razão, simplesmente os dados apresentados não são suficientes para provar a tese que se afirma no título e se repete no texto.

De outra ordem são as questões ouvidas na RTP:
No Telejornal, José Rodrigues dos Santos afirmou que um inventor suíço tinha apresentado "um carro eléctrico" e que "em vez de um motor, o carro tinha uma simples bateria". A explicação subsequente em que um simples motor de poucos cavalos, mais próprio de uma motocicleta, tinha apenas por função carregar a bateria, não só contrariava a afirmação como me deixou completamente às escuras. Não há dúvida que os "carros eléctricos" ainda nos reservam muitas surpresas.

Mais adiante falou-se de aves mortas por botulismo encontradas em zonas pantanosas algures na Europa. e acrescentava-se esta pérola: «É desta toxina [a toxina do botulismo que teria afectado as aves] que se faz o Botox, só que se na pela humana elimina as rugas, para os patos pode ser fatal.». Como se a toxina do botulismo fosse inofensiva para os seres humanos e letal para as aves, e não apenas uma questão de dose. Claro que ninguém se lembraria de usar a toxina de Clostridium botulinum para eliminar rugas nos patos.

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