quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

O hidrogénio não é renovável

Segundo o Público (dia 4 de Dezembro), a Islândia pretende "até 2050 abandonar o recurso a combustíveis fósseis nos transportes", para se tornar "mesmo amiga do ambiente". O último passo neste sentido foi e inauguração da "primeira estação de serviço que serve hidrogénio, a energia limpa do futuro." Acrescenta o responsável da empresa Nova Energia Islandesa, "apoiada pelo Governo, universidades e privados", Jon Bjorn Skulason, que "não há qualquer outro combustível no mundo capaz de satisfazer as necessidades energéticas que hoje são supridas pelos combustíveis fósseis".

É sem dúvida uma boa notícia, sob o aspecto ambiental. Mas o modo como é dada assenta num equívoco fundamental: o hidrogénio não é uma fonte de energia primária. O seu uso tem grandes vantagens, sobretudo nos transportes em meio urbano, pois evita a poluição local, um grande problema em todas as cidades. No entanto, como o hidrogénio não se encontra na Natureza sob forma elementar, é preciso fabricá-lo. Há diversos meios para isso, mas actualmente o mais barato ainda é por via química a partir de combustíveis fósseis. Ganha-se alguma coisa, porque as centrais produtoras podem ser mais eficientes e poluir menos e sobretudo poluir longe das populações, mas não se evita o recurso aos famigerados combustíveis. Uma outra via será por electrólise, e aí gastamos energia eléctrica que terá de ser produzida de qualquer modo. Também aqui os combustíveis fósseis ocupam lugar de relevo economicamente inultrapassável. Claro que se a electricidade for produzida por centrais hidroeléctricas, eólicas ou de células fotovoltaicas, teremos uma solução integralmente limpa, mas a que preço? Poderá a Islândia pagá-lo? Claro que o Sr. Skulason sabe tudo isto muito melhor do que eu e não cometeria o erro de pensar que o hidrogénio está disponível. Já não sei se posso afirmar o mesmo da jornalista Ana Gerschenfeld. Pelo menos a notícia omite estes aspectos e deixa antever, para os leitores desprevenidos, que o problema da produção do hidrogénio não existe.

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