sexta-feira, 6 de abril de 2007

Recordações


Senti-me quase como Proust ao rememorar o sabor das madalenas molhadas em chá quando há dias ouvi a Valsa Lenta da Copélia de Delibes. Foi ao som desta área que passei, há muitos anos, momentos muito agradáveis, enquanto encantado seguia da galeria os passos de ginástica rítmica duma classe feminina de jovens que, na minha memória, eram todas encantadoras, sobretudo uma que, já não sei como, soube ser irmã dum meu colega de liceu. Nunca a vi de perto, só lhe seguia os movimentos elegantes, ao som da música de Delibes tocada ao piano, junto às restantes ginastas. Como eu frequentava nesse tempo uma classe de ginástica no Lisboa Ginásio, duas vezes por semana, depois das aulas, numa hora imediatamente antes da ginástica feminina, ia depois deleitar-me com a graciosidade dos passos das jovens ginastas.

Claro que nos muitos anos que se seguiram tive ocasião de ouvir várias vezes a Valsa Lenta, mas desta última vez, por qualquer razão que desconheço, a recordação dos fins de tarde na galeria da grande sala do Lisboa Ginásio foi mais viva e duradoura.

É assim, há melodias que têm um significado especial. Outras prendem-se a outras recordações por diferentes razões. Estas sensações acrescentam encanto às músicas que as suscitam.

Só para terminar gostaria de esclarecer que ainda não consegui ler o "A la recherche... " todo e que gosto de madalenas, gosto de chá, mas detestaria molhá-las e fazer com que fiquem moles e húmidas além de deixar o chá cheio de migalhas, por muito que possa custar à minha admiração pela prosa do Proust.

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