sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Abade Pierre

A notícia da morte no dia 22 de Janeiro aos 94 anos do Abade Pierre trouxe-me à lembrança recordações antigas de uma colaboração com a sua obra, muito breve mas que me marcou singularmente.

Foi no Verão de 1957, tinha eu 18 anos, que saí do País pela primeira vez para acompanhar a minha irmã mais velha a uma viagem que nos levou a um campo de trabalho em França organizado por uma instituição chamada Jeunesse et Réconstrution e que se dedicava desde o fim da guerra a auxiliar em tarefas de reconstrução. Esse campo de trabalho dedicava-se a preparar para os Companheiros de Emaüs do Abade Pierre os terrenos onde esta organização tencionava construir habitações para os sem abrigo, tarefa que ainda hoje, como sabemos, não está acabada.

A própria viagem foi uma aventura, de comboio até à fronteira francesa e depois à boleia, que nessa altura não era tão perigoso como agora, dormindo em Albergues da Juventude, coisa que era e continuou a ser durante muitos anos ainda desconhecida em Portugal. Uma brevíssima passagem por Paris maravilhou-me, mas o que mais me impressionou foi o próprio campo de trabalho e o seu ambiente.

Nunca conhecemos o Abade Pierre pessoalmente, mas no campo trabalhávamos não só com jovens franceses como com alguns dos companheiros, antigos sem abrigo que ajudavam o movimento. O sentimento de estarmos a fazer algo útil ajudava-nos a esquecer as bolhas nas mãos que o machado causava e o cansaço por tarefas a que não estávamos habituados. Apesar de não sermos católicos, nem eu nem a minha irmã, sentíamo-nos irmanados nesse esforço e nunca perdi uma simpatia especial por esse movimento.

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