quarta-feira, 11 de outubro de 2006
A Ópera de Berlim e o respeito pelas religiões
No recente caso do cancelamento da apresentação da ópera de Mozart Idomeneu na Ópera de Berlim, o que mais me impressionou não foi o facto em si, um flagrante acto de censura, mas sim a razão adiantada pela directora da Ópera ter sido o receio de reacções violentas de sectores islâmicos que poderiam pôr em causa a segurança de intérpretes, pessoal e espectadores. Como a cena que causou a polémica não apresentava apenas a cabeça degolada de Maomé, mas também as de Posídon, Jesus e Buda, seria de esperar da senhora directora uma atitude baseada no respeito por todas as religiões atingidas e não apenas do Islão. Tirando o deus grego, que suponho que já não terá um número significativo de adoradores e cuja exibição da cabeça não faltará ao respeito de crentes vivos, os cristãos e os budistas teriam a mesmíssima razão para se ofenderem que os muçulmanos. Portanto se a razão adiantada fosse o receio de ofender os crentes destas religiões, independentemente de essas ofensas poderem dar origem a reacções mais ou menos violentas, o acto censório não deixaria de o ser mas poderia ter uma base moral. Assim é um acto de cedência perante o terror que só pode fortalecer a ideia de que vale a pena inspirar medo para obrigar os outros a fazerem a nossa vontade.
De passagem sempre digo que, apesar de pessoalmente não me poder considerar ofendido por não me inserir em nenhuma das religiões cujos profetas ou deuses (ou no caso do budismo talvez figura venerável máxima), acho a encenação, tal como a descreveram nos meios de comunicação (continuo a insistir em não usar a expressão "media" e muito menos "mídea") de enorme mau gosto. Se eu fosse director de uma casa de espectáculo hesitaria muito em levar à cena tal encenação. No entanto, depois de aprovada e marcada a representação, não me parece correcto cancelar, muito menos pelas razões apontadas.
De passagem sempre digo que, apesar de pessoalmente não me poder considerar ofendido por não me inserir em nenhuma das religiões cujos profetas ou deuses (ou no caso do budismo talvez figura venerável máxima), acho a encenação, tal como a descreveram nos meios de comunicação (continuo a insistir em não usar a expressão "media" e muito menos "mídea") de enorme mau gosto. Se eu fosse director de uma casa de espectáculo hesitaria muito em levar à cena tal encenação. No entanto, depois de aprovada e marcada a representação, não me parece correcto cancelar, muito menos pelas razões apontadas.