quarta-feira, 5 de julho de 2006

Um valente espanto

Pouca vezes acontece ler um comentário num jornal com cujo conteúdo nos identificamos inteiramente. Mas quando isso acontece apetece-nos dar conhecimento ao comentador da nossa concordância, especialmente se é um caso que nos chocou ou teve particular significado. Quase sempre, não o fazemos, por falta de tempo, por esquecimento ou por inércia. Mas desta vez, com o desenvolvimento recente do caso do assassínio de Gisberta, com a acusação formulada pelo Ministério Público de homicídio sob a forma tentada, que também nos deixou espantados, ao ter lido hoje o comentário de Ana Cristina Pereira no Público "Um valente espanto" vencemos a inércia. Queríamos felicitar a autora do comentário por ter expressado aquilo que pensávamos, mas que por não sermos jornalistas nem comentadores não teríamos possibilidade de dar a conhecer fora do nosso círculo familiar ou de amigos.
Então um grupo de indivíduos (o facto de serem menores não afecta, achamos nós, o grau de culpa, apenas pode ter significado psicológico e social e ter diferente enquadramento legal) tortura, fere, violenta e provoca a morte de uma pessoa atirando-a para um poço, e os componentes do grupo não são acusados de homicídio consumado? Tudo o que Ana Cristina Pereira escreve é correcto e só podemos acrescentar que a nós também não dá para entender. Acresce que o resultado desta acusação, se for dada como provada, serão penas de internamento em regime aberto e semi-aberto de apenas até 15 meses. Entende-se que os menores tenham um tratamento diferente dos maiores para o mesmo tipo de crime, mas é chocante a disparidade. Ana Cristina Pereira compara com a pena a que se sujeita o alegado autor dos crimes de Santa Comba Dão e confessa: "Não compreendo, não compreendo." Nós também não.
Júlio Freire de Andrade
Marlene Freire de Andrade

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