quarta-feira, 26 de outubro de 2005
No Vale do Silêncio
Uma das actividades possíveis no Vale do Silêncio é trepar às árvores. Aqui estamos mesmo numa das fronteiras do Vale, pelo que se vêem os prédios atrás, mas se nos embrenharmos mais na zona arborizada até parece estarmos no campo...
terça-feira, 18 de outubro de 2005
Contrastes
Num destes últimos sábados, quando o tempo ainda estava agradável, fui fazer um piquenique no Vale do Silêncio, nos Olivais, com a minha mulher e a minha neta.
Para quem não conhece, o Vale do Silêncio é um local muito aprazível, muito arborizado, ainda meio selvagem, que tem no centro um extenso relvado onde mal se ouve o ruído da cidade. Não será tão agradável como, por exemplo, a Tapada da Ajuda, onde passei muitas horas e dei enormes passeios quando ainda andava no liceu e onde já voltei recentemente também com a neta. Mas o Vale do Silêncio tem para mim a vantagem de estar muito perto de casa e me poder pôr lá em poucos minutos. E já dá para passar uns bons bocados “no meio da Natureza”. Na orla do relvado, mas já à sombra das árvores que formam nesse local um pequeno bosque apropriado para as brincadeiras infantis, há duas mesas de madeira com bancos, convidativas para quem, como nós nesse sábado, quer piquenicar de preferência sem se sentar no chão. As tábuas estão muito velhas, como é natural para madeira não tratada e exposta à intempérie, e além disso sofreram já algum vandalismo, mas são ainda muito boas para dispor os comes e os bebes, mormente para uma refeição frugal.
Brincámos, comemos e explorámos o espaço durante umas boas horas. Ora, apesar do tempo muito agradável, nem demasiado quente, nem frio, apesar das sombras acolhedoras, apesar do amplo espaço e do sossego, só vimos passar fugazmente um velhote com bengala, um senhor a passear o cão, um rápido passeante e um ciclista. Não esperava, nem gostaria, de ter sido rodeado por multidões, mas pareceu-me verdadeiramente um desperdício ver desaproveitado um espaço tão interessante como há poucos em Lisboa.
À tarde tive de ir fazer algumas compras ao Centro Comercial Vasco da Gama. É um dos centros comerciais que mais frequento, logo a seguir ao Centro Comercial dos Olivais, a que os promotores resolveram pôr o nome anglo-saxonizado americanizado de Olivais Shoping Centre (ainda se tivessem escolhido a ortografia do inglês europeu, isto é da Inglaterra, de “Centre” em vez de “Center”…). Mas adiante: Não sou dos mais ferozes críticos do consumismo da vida moderna. Afinal todos precisamos de comer e de nos vestirmos, base principal do consumo. E nem me parece que seja uma característica particular da vida moderna. Veja-se a importância das feiras desde os tempos medievais. Mas o certo é que as multidões que se acotovelavam nos corredores do Centro Comercial, muitas famílias em ar de passeio com crianças da idade da minha neta ou ainda mais pequenas, que melhor estariam a respirar o ar puro do exterior, me chocou pelo enorme contraste com o bosquezito deserto onde tinha estado de manhã. É natural que haja mais gente num sítio onde se pode fazer alguma coisa de útil, como comprar os bens necessários e até alguns supérfluos do que num lugar onde só se pode passear, brincar, comer, respirar ar puro e descansar, admitindo que do ponto de vista da estrita utilidade, estas actividades não estarão na primeira linha. Mas passar de zero quase absoluto para a multidão que torna o avanço difícil é um contraste que, quanto a mim, mostra o divórcio entre o citadino e a natureza, mesmo que seja o arremedo da natureza dum espaço arborizado e relvado entalado entre os prédios e as avenidas de um bairro populoso.
Num destes últimos sábados, quando o tempo ainda estava agradável, fui fazer um piquenique no Vale do Silêncio, nos Olivais, com a minha mulher e a minha neta.
Para quem não conhece, o Vale do Silêncio é um local muito aprazível, muito arborizado, ainda meio selvagem, que tem no centro um extenso relvado onde mal se ouve o ruído da cidade. Não será tão agradável como, por exemplo, a Tapada da Ajuda, onde passei muitas horas e dei enormes passeios quando ainda andava no liceu e onde já voltei recentemente também com a neta. Mas o Vale do Silêncio tem para mim a vantagem de estar muito perto de casa e me poder pôr lá em poucos minutos. E já dá para passar uns bons bocados “no meio da Natureza”. Na orla do relvado, mas já à sombra das árvores que formam nesse local um pequeno bosque apropriado para as brincadeiras infantis, há duas mesas de madeira com bancos, convidativas para quem, como nós nesse sábado, quer piquenicar de preferência sem se sentar no chão. As tábuas estão muito velhas, como é natural para madeira não tratada e exposta à intempérie, e além disso sofreram já algum vandalismo, mas são ainda muito boas para dispor os comes e os bebes, mormente para uma refeição frugal.
Brincámos, comemos e explorámos o espaço durante umas boas horas. Ora, apesar do tempo muito agradável, nem demasiado quente, nem frio, apesar das sombras acolhedoras, apesar do amplo espaço e do sossego, só vimos passar fugazmente um velhote com bengala, um senhor a passear o cão, um rápido passeante e um ciclista. Não esperava, nem gostaria, de ter sido rodeado por multidões, mas pareceu-me verdadeiramente um desperdício ver desaproveitado um espaço tão interessante como há poucos em Lisboa.
À tarde tive de ir fazer algumas compras ao Centro Comercial Vasco da Gama. É um dos centros comerciais que mais frequento, logo a seguir ao Centro Comercial dos Olivais, a que os promotores resolveram pôr o nome anglo-saxonizado americanizado de Olivais Shoping Centre (ainda se tivessem escolhido a ortografia do inglês europeu, isto é da Inglaterra, de “Centre” em vez de “Center”…). Mas adiante: Não sou dos mais ferozes críticos do consumismo da vida moderna. Afinal todos precisamos de comer e de nos vestirmos, base principal do consumo. E nem me parece que seja uma característica particular da vida moderna. Veja-se a importância das feiras desde os tempos medievais. Mas o certo é que as multidões que se acotovelavam nos corredores do Centro Comercial, muitas famílias em ar de passeio com crianças da idade da minha neta ou ainda mais pequenas, que melhor estariam a respirar o ar puro do exterior, me chocou pelo enorme contraste com o bosquezito deserto onde tinha estado de manhã. É natural que haja mais gente num sítio onde se pode fazer alguma coisa de útil, como comprar os bens necessários e até alguns supérfluos do que num lugar onde só se pode passear, brincar, comer, respirar ar puro e descansar, admitindo que do ponto de vista da estrita utilidade, estas actividades não estarão na primeira linha. Mas passar de zero quase absoluto para a multidão que torna o avanço difícil é um contraste que, quanto a mim, mostra o divórcio entre o citadino e a natureza, mesmo que seja o arremedo da natureza dum espaço arborizado e relvado entalado entre os prédios e as avenidas de um bairro populoso.